Antes do início do conflito, muitos sírios se queixavam de um alto nível
de desemprego, corrupção em larga escala, falta de liberdade política e
repressão pelo governo Bashar al-Assad - que havia sucedido seu pai, Hafez, em
2000.
Em março de 2011, adolescentes que haviam pintado mensagens
revolucionárias no muro de uma escola na cidade de Deraa, no sul do país, foram
presos e torturados pelas forças de segurança.
O fato provocou protestos por mais liberdades no país, inspirados na
Primavera Árabe (manifestações populares que naquele momento se estendiam
pelos países árabes). Quando as forças de segurança sírias abriram fogo
contra os ativistas, as tensões se elevaram e mais gente saiu às ruas. Os
manifestantes pediam a saída de Assad.
A resposta do governo foi sufocar as divergências, o que reforçou a
determinação dos manifestantes. No fim de julho de 2011, centenas de milhares
saíram às ruas em todo o país exigindo a saída de Assad. À medida que a
oposição aumentavam, a resposta violenta do regime se intensificava.
Simpatizantes do grupo antigoverno começaram a pegar em armas, primeiro para se
defender e depois para expulsar as forças de segurança de suas regiões. Assad
prometeu "esmagar" o que chamou de "terrorismo apoiado por
estrangeiros" e restaurar o controle do Estado. A violência rapidamente
aumentou no país: grupos rebeldes se reuniram em centenas de brigadas para
combater as forças oficiais e retomar o controle das cidades e vilarejos.
Em 2012, os enfrentamentos chegaram à capital, Damasco, e à segunda
cidade do país, Aleppo. O conflito já havia, então, se transformado em mais que
uma batalha entre aqueles que apoiavam Assad e os que se opunham a ele (ganhou
características de guerra sectária entre a maioria sunita do país e xiitas
alauítas) o braço do Islamismo a que pertence o presidente. Isto arrastou as
potências regionais e internacionais para o conflito, conferindo-lhe outra
dimensão. Em junho de 2013, as Nações Unidas informaram que o saldo de mortos
já chegava a 90 mil pessoas.
A rebelião armada da oposição evoluiu significativamente desde suas
origens. O número de membros da oposição moderada secular foi superado pelo de
radicais e jihadistas (partidários da "guerra santa" islâmica). Entre
eles estão o autointitulado Estado Islâmico e a Frente Nusra, afiliada à
al-Qaeda.
Os combatentes do EI (Estado Islâmico) criaram uma "guerra dentro
da guerra", enfrentando tanto os rebeldes da oposição moderada síria
quanto os jihadistas da Frente Nusra. Também combatem o Exército curdo, um dos
grupos que os Estados Unidos estão apoiando no norte da Síria.
Desde 2014, os EUA, junto com o Reino Unido e a França, realizam
bombardeios aéreos no país, mas procuram evitar atacar as forças do governo
sírio.
Já a Rússia lançou em 2015 uma campanha aérea com o fim de
"estabilizar" o governo após uma série de derrotas para a oposição. A
intervenção russa possibilitou vitórias significativas das forças sírias. A
maior delas foi a retomada da cidade de Aleppo, um dos principais redutos dos
grupos de oposição, em dezembro de 2016. Os rebeldes moderados têm
requisitado armas antiaéreas ao Ocidente para responder ao poderio do governo
sírio. Mas Washington e seus aliados têm procurado controlar o fluxo de armas
por medo de que acabem indo parar nas mãos de grupos jihadistas.
O bombardeio,desta quinta-feira (06/04) feito a partir de dois navios de
guerra americanos estacionados no mar Mediterrâneo, dá novos direcionamentos ao
conflito, que já dura mais de seis anos. A Rússia, aliada do presidente Bashar
al-Assad, condenou a medida - ela nega que o governo sírio esteja usando armas
químicas.
O ataque dos Estados Unidos foi ordenado pelo presidente, Donald Trump,
que até pouco tempo atrás citava Assad como um aliado na guerra contra o
terror. Mas tudo mudou após imagens do ataque da terça chocarem o mundo, e
criticava Hilary Clinton durante a campanha dizendo que ela incitava a guerra.
Mas que agora precisa se fortalecer no meio político como quem não tem medo de
enfrentar Putin, e diz ter ficado sensibilizado ao ver crianças como vítimas.
O que se seguiu foi o bombardeio realizado na noite da quinta-feira. Ao
falar da ofensiva, Trump chamou Assad de "ditador" por ter lançado um
"ataque com armas químicas terríveis contra civis inocentes".
O governo russo condenou o ataque americano, classificando o bombardeio
com uma "agressão contra uma nação soberana". O porta-voz do governo,
disse que a ofensiva dos EUA "causa um dano significativo às relações
entre Washington e Moscou". Segundo ele, o presidente Vladimir Putin vê o
ataque como "uma intenção de distrair o mundo pela morte de civis
provocadas pela intervenção militar no Iraque".
E assim o mundo está assistindo ao início de um momento de grande tensão
entre grandes potências militares, como se estivéssemos em plena Guerra Fria!
Fonte: BBC