Todos os dias
ouvimos pedidos para uma intervenção militar na Síria, onde a Guerra Civil já
matou cerca de 60 mil pessoas. Mas poucos falavam em enviar tropas para Mali,
no meio da África, onde o cenário é tão repugnante quanto o da Síria, com o
norte do território nas mãos de milicianos ligados à rede terrorista Al Qaeda
desde o início do ano passado.
Para entender o
contexto no Mali, que diferentemente da Síria raramente recebe cobertura
internacional, em março de 2012, um golpe militar derrubou um governo
democraticamente eleito em Bamako. Diante de um vácuo de poder, estes grupos
radicais islâmicos ligados à Al Qaeda assumiram o poder no norte do país. Estas
organizações, que utilizam algumas armas fornecidas por rebeles líbios,
implementaram uma versão radical da sharia, com pessoas sendo apedrejadas,
mutiladas e mortas.
Diante do temor
de o norte de Mali se transformar um novo oásis para a Al Qaeda, como o
Afeganistão nos tempos do Taleban, a comunidade internacional decidiu se
mobilizar para tentar conter os grupos radicais islâmicos. Nenhuma nação
ocidental, porém, estava disposta a enviar tropas e tampouco a realizar uma
intervenção nos moldes da realizada na Líbia, através de bombardeios aéreos.
A saída, depois
de meses de negociações no Conselho de Segurança, foi organizar uma missão de
3.300 soldados da Comunidade Econômica do Oeste Africano (ECOWAS, na sigla em
inglês). Mas estes militares começariam a lutar ao lado das tropas de Mali
apenas no fim deste ano. Obviamente, o prazo se mostrou longo e os rebeldes
islâmicos conseguiram avançar e agora estão próximos de tomar a importante
cidade de Konna, ampliando ainda mais o controle do território nas mãos destes
grupos ligados à Al Qaeda.
O Conselho de Segurança se reuniu em caráter emergencial em Nova York
demonstrando enorme preocupação com a deterioração do cenário no país africano.
Diferentemente da Síria, onde há uma divisão entre os membros do órgão, com a
Rússia e a China a favor do regime secular apoiado por minorias alauíta,
cristãs e druza de Bashar al Assad e os EUA e os europeus apoiando a oposição
de viés sunita, a questão de Mali não provoca divergências.
Hoje, sem
ninguém impor obstáculos, os franceses decidiram enviar tropas para lutar ao
lado das forças do governo contra os rebeldes ligados à Al Qaeda na região ao
redor de Konna. É difícil fazer uma previsão do que pode ocorrer. A França
ainda é um dos países que mais bem conhece Mali, por ter sido uma colônia. Mais
grave, tampouco há informações aprofundadas sobre a situação da população
civil.
Fonte: http://blogs.estadao.com.br/gustavo-chacra
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