Exército derrubou o
islamita Morsi e prometeu fazer transição de poder.
País passou por crise semelhante em 2011, na queda do ditador Mubarak.
Palco de uma mudança política desencadeada por uma revolta
popular que resultou na renúnciam, em 2011, do então presidente Hosni Mubarak,
na época há 30 anos no poder, oEgito enfrentou, dois anos depois, novas
manifestações populares que terminaram com a derrubada do presidente Mohamed
Morsi em 3 de julho.
Eleito democraticamente em 2012,
Morsi se tornou impopular após suas ações contra o Exército, seu acúmulo de
poderes e autoritarismo e o domínio da Irmandade Muçulmana no país.. Novos
protestos da oposição e da população se espalharam pelo país, culminando com a
exigência de sua renúncia e com um ultimato militar.
O prazo de 48 horas dado no dia 1º expirou nesta quarta (3), e
os militares anunciaram a queda de Morsi e um plano de transição de poder.
O Exército exigia que as “demandas do
povo sejam atendidas”, para a alegria dos opositores que reivindicavam a saída
de Morsi.
A Praça Tahir, que foi palco dos principais
protestos no período que levou à renúncia de Mubarak, segue ocupada por
manifestantes.
Eleito em 2012
Morsi foi eleito em 2012, pouco mais de um ano depois da
renúncia de Mubarak, nas primeiras eleições democráticas do país. Mubarak tinha
82 anos e estava havia 30 no poder.
Ele deixou o poder após 18 dias de
violentos protestos de rua que deixaram mais de 300 mortos e 5 mil feridos, em
um movimento popular inspirado no levante que derrubou o presidente da vizinha
Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali. A manutenção no poder se tornou mais difícil
para Mubarak depois que a Irmandade Muçulmana, de Morsi, anunciou seu apoio
oficial, e que o presidente dos EUA, Barack Obama, também pressionou pela saída
imediata de Mubarak. Líderes da União Europeia se juntaram aos apelos pela
renúncia.
Entre a saída de Mubarak e a eleição
de Morsi, o país foi governado por uma junta militar, que comandou uma transição
democrática marcada pela incerteza.
Veja a cronologia dos problemas no Egito desde que Morsi assumiu
o poder, há um ano:
- 30 de junho de 2012: Mohamed Morsi toma posse após vencer as eleições
presidenciais com 51,73% dos votos. Ele é o primeiro chefe de Estado egípcio a
ser eleito democraticamente, e também o primeiro islamita e o primeiro civil a
dirigir o país.
- 12 de agosto de 2012: Morsi afasta
o marechal Hussein Tantawi, ministro da Defesa, que se tornou chefe de Estado
após a queda de Hosni Mubarak, e suspende as amplas
prerrogativas políticas dos militares.
- 22 de novembro de 2012: Início de uma crise política
desencadeada por um decreto em que Morsi estende seus poderes e os coloca acima
de qualquer controle judicial.
No dia 30, um projeto de Constituição
é aprovado pela Comissão Constitucional, que foi boicotada pela oposição de
esquerda e laica, assim como pelos círculos cristãos.
A decisão de Morsi provoca uma série
de protestos, que causaram violentos confrontos entre opositores e partidários
do regime.
Os confrontos causam a morte de sete
pessoas e deixam centenas de feridos em 5 de dezembro perto do palácio
presidencial.
- 8 de dezembro de 2012: Morsi aceita abandonar o projeto que
fortalece seus poderes para superar a crise, mas mantém o referendo sobre um
polêmico projeto de Constituição. Entre os dias 15 e 22 de dezembro a
Constituição defendida por islamitas é aprovada (cerca de 64%), após um
referendo boicotado pela oposição.
- 24 de janeiro de 2013: Início de
uma nova onda de violência entre manifestantes e policiais na véspera do
segundo aniversário da revolta que derrubou Mubarak. São registrados sessenta
mortes em uma semana, incluindo 40 em Port Said (nordeste), após o anúncio das
sentenças de morte de 21 torcedores do clube de futebol local por seu
envolvimento em um grave episódio de violência após uma partida contra uma
equipe do Cairo (74
mortos em 2012).
- 19 de abril de 2013: Mais de cem
feridos em confrontos no Cairo entre manifestantes anti e pró-Mursi.
- 02 de junho de 2013: A justiça invalida o Senado, que assume o poder
legislativo na ausência da Assembleia, assim como a comissão que elaborou a
Constituição. A Presidência reage dizendo que o Senado - um organismo
historicamente sem poder que ganhou um papel legislativo quando a Assembleia do
Povo foi dissolvida por ordem judicial - vai continuar a legislar até que novas
eleições legislativas sejam realizadas, e que a lei fundamental é intocável.
- 24 de junho de 2013: Ministro da Defesa declara que 'as Forças
Armadas têm o dever de intervir para impedir o Egito de mergulhar em um
conflito', na véspera do primeiro aniversário da eleição de Morsi. Os líderes
da oposição já reivindicam a renúncia do presidente.
- 26-29 de junho de 2013:
Manifestações pró e anti-Morsi. Os confrontos causam oito mortes, incluindo a
de um americano, principalmente em Alexandria e no Delta do Nilo.
- 30 de junho de 2013: Manifestações
em massa contra o presidente. A multidão ocupa as ruas do Cairo e de muitas
outras cidades, gritando "O povo quer a queda do regime", mesmo lema
do início de 2011 contra o governo de Hosni Mubarak. Pelo menos dezesseis
mortes no país, incluindo oito em confrontos entre manifestantes favoráveis e
contrários a Morsi no Cairo.
- 1º de julho de 2013: A oposição dá
24 horas a Morsi para que renuncie. O movimento Tamarrod (rebelião, em árabe)
pede que o Exército "tome uma posição clara ao lado da vontade
popular".
- 3 de julho de 2013: O Exército
anuncia a deposição de Morsi e promete uma transição