Vítimas de
guerras civis, terrorismo, perseguições e miséria, eles buscam no continente
uma chance de uma vida mais digna, mas nem sempre chegam à terra firme. Só em
2015, mais de 2.500 pessoas morreram afogadas na travessia, um número sem
precedentes.
De todo o
contingente que cruzou o Mar Mediterrâneo em direção a Europa durante os
primeiros seis meses de 2015, um terço era formado por homens, mulheres e
crianças da Síria, cujos cidadãos têm sido quase universalmente reconhecidos
como refugiados ou elegíveis a outras formas de proteção internacional. Os
outros dois terços são majoritariamente originários de países como Afeganistão
e Eritréia, esse aumento no fluxo migratório se deve principalmente ao
crescente número de conflitos internos em países da África e do Oriente Médio.
A agência
de refugiados da ONU indica que o maior grupo requerentes no continente é
formado por sírios, com 122.800 requisições de asilo, ou 20% do número total de
candidatos. Eritreus que fogem da guerra estão em segundo lugar.
Para atravessar o Mediterrâneo, que se tornou o
“Mar da morte”, os imigrantes se arriscam em embarcações superlotados sem o
mínimo de segurança. Aliciados por traficantes de pessoas, os passageiros
acabam desenbolsando quantias maiores do que R$ 10 mil por pessoa, o que torna
o negócio altamente lucrativo – um único barco pode render US$ 1 milhão.
Apesar do pagamento
alto, eles não têm qualquer garantia de que terão seus pedidos de refúgio
aceitos. Muitos não ficam no destino final e são mandados de volta aos seus
respectivos países de origem.
Além da crise de imigração,
alguns países europeus também enfrentam uma crise
econômica, como é o caso da Grécia que, sozinha, já recebeu em
2015 cerca de 160 mil imigrantes. Se a situação econômica na Europa
não é das mais favoráveis, por que milhares de pessoas abandonam seus lugares
de origem, pondo em risco a própria vida, para atravessar as fronteiras?
1. Síria
Mais de 240
mil pessoas morreram na Síria desde 2011, ano em que estourou uma guerra civil
no país, e, dentro desse número, estão 12 mil crianças. Em 2015, a guerra na
Síria completou quatro anos de conflitos entre tropas leais ao
regime, vários grupos rebeldes, forças curdas e organizações jihadistas, entre
elas, o Estado Islâmico.
Estimativas da ONU apontam que mais de
7 milhões de sírios abandonaram suas residências dentro do país e quase 60% da
população vive na pobreza. Os trágicos números refletem na alta taxa de
emigração do país – seriam 4
milhões de refugiados sírios, a maior população de refugiados do mundo.
O principal destino dos sírios são a
Turquia, que já recebeu 1,8 milhão de refugiados desde o início da guerra civil
na Síria, Iraque, Jordânia, Egito e Líbano. Um relatório da ONU aponta que,
somente no primeiro semestre deste ano, 44 mil
pessoas saíram da Síria com destino à costa europeia.
2. Afeganistão
O país foi invadido em 2001
pelos Estados Unidos, logo após o ataque às Torres Gemêas em 11 de setembro
daquele ano. Osama bin Laden, líder da rede Al-Qaeda, assumiu a autoria dos
atentados e se refugiava no país. Mas, antes disso, o Afeganistão já estava
dominado pelo Talibã, grupo
militante radical. Expulso do poder, o Talibã lutou constantamente
ao longo dos anos contra as tropas americanas. Estudos
apontam que, desde 2001, mais de 150 mil pessoas morreram no Afeganistão e no
Paquistão.
Dados da ONU, indicam que,
juntamente com a Síria e a Somália, o Afeganistão
somou 7,6 milhões dos refugiados de 2014. Somente no primeiro
semestre deste ano, 1.592 civis
morreram em conflitos no Afeganistão.
Os refugiados afegãos estão
presentes em mais de 80 países, mas um relatório do Alto Comissariado das
Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) aponta que somente dois deles
concentram 96% dessa população: Irã e Paquistão.
3. Iraque
Os Estados Unidos invadiram o
Iraque e tiraram Saddam Hussein do poder em 2003, sob o argumento de que o país
possuía armas de destruição em massa. Com a saída de Hussein, se instalou um
governo controlado pelos xiitas. Insatisfeitos, os sunitas começaram a
protestar pacificamente em 2012, mas poucas concessões foram feitas, porque os
xiitas acreditavam que se tratavam não de pedidos de reforma, mas de uma busca
por retomar o poder.
A marginalização fez com que parte dos sunitas
iraquianos começassem a se aproximar do Estado Islâmico. Após a retirada
das tropas americanas do Iraque em 2011, o grupo jihadista, que ganhou força na
sua atuação no conflito da Síria e conquistou territórios por lá, passou a
avançar sobre o norte iraquiano.
A violência da
atuação do grupo extremista no Iraque pode ser colocada em números:
somente em 2014, o Iraque registrou 10 mil mortes - quase um
terço de todos os mortos no mundo em atentados terroristas. Outras
milhares de pessoas se refugiam em países europeus, sendo a Turquia um dos
principais destinos para os iraquianos, com cerca de 200 mil no
país,
4.
Líbia
Em 2011, o levante popular
conhecido como "Primavera Árabe" depôs o ditador Muammar Kadhafi, que
estava no controle do
governo líbio há 42 anos. Desde então, o país vive uma crise
política, com dois Parlamentos e dois governos rivais. O governo reconhecido
pela comunidade internacional tem sede em Tobruk, no leste do país.
Aproveitando-se da
instabilidade na Líbia, o Estado Islâmico, que se apoderou de vastos
territórios na Síria e no Iraque, posicionou-se ano passado
na Líbia, onde controla sobretudo trechos da região de Syrte, a
leste de Trípoli. O grupo extremista já assumiu autoria em uma série de ataques
e abusos, incluindo a decapitação
de 21 cristãos e um atentado
contra um hotel na capital Trípoli.
Refugiados dos conflitos cruzam
o Mar Mediterrâneo em direção à Itália, usando o país como uma ponte para
chegar a outros destinos da Europa. O governo
italiano já resgatou centenas de imigrantes do norte da África neste
ano.
5. Eritreia
Dos imigrantes que cruzam o
Mediterrâneo em direção ao sul da Itália, boa parte vêm da Eritreia. Segundo a
BBC, um dos motivos para cidadãos desse país no Chifre da África decidirem
emigrar é o serviço militar obrigatório , comparável a um regime de
escravidão. Grupos de defesa dos direitos humanos também afirmam que o
país vive forte repressão política.