Iraque vive nova onda de violência; entenda os
pontos do conflito
Militantes
sunitas tomaram cidades do norte e ameaçam governo.
EUA e Irã cogitam operação conjunta
contra o grupo.
O Iraque vive
no último mês uma nova onda de violência que ameaça se transformar em uma
guerra civil. O grupo muçulmano sunita Estado Islâmico do Iraque e do Levante
(EIIL, também conhecido como Isis) tomou importantes cidades do norte e anunciou
que levará a batalha até a capital, Bagdá, e cidades do sul. Ele quer criar um
califado entre o Iraque e a Síria que siga a lei islâmica, a Sharia. O Ocidente
se organiza e os Estados Unidos enviaram um porta-aviões ao Golfo. Washington
cogita até uma ação conjunta com o Irã para impedir o avanço do grupo,
simpatizante da rede Al-Qaeda.
Como surgiu o EIIL?
O EIIL surgiu a partir do
Estado Islâmico no Iraque (EII), o braço iraquiano da Al-Qaeda dirigido por Abu
Bakr al-Bagdadi. Em abril de 2013, Bagdadi anunciou que o Estado Islâmico do
Iraque e a Frente Al-Nosra, um grupo jihadista presente na Síria, se fundiriam
para se converter no Estado Islâmico do Iraque e Levante (EIIL).
A Al-Nosra nega-se a aderir a
este novo movimento e os dois grupos começaram a agir separadamente até o início,
em janeiro de 2014, de uma guerra entre eles. O EIIL contesta abertamente a
autoridade do chefe da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, e rejeita seu pedido de que
se concentre no Iraque e deixe a Síria para a Al-Nosra.
A campanha do EIIL, que tomou
partes do Iraque, é ajudada por sunitas descontentes com o governo do
presidente alauíta da Síria, Bashar Al-Assad, e com a administração xiita
iraquiana - dois estados cujas fronteiras foram desenhadas por França e
Inglaterra após a Primeira Guerra Mundial. O objetivo é criar um califado entre
os dois países baseado na lei islâmica, a Sharia.
Então, essa disputa começou a
se desenhar na 1ª Guerra Mundial?
Os países árabes conseguiram manter, décadas após a independência, as
fronteiras demarcadas pelos europeus há quase um século - em parte por
imposição de governos autoritários que controlavam a enorme mistura de etnias
dentro de seus territórios.Os limites e regimes do Oriente
Médio definidos por um acordo de 1916. Segundo o ele, o Reino Unido e a França
dividiram as terras do meio leste do Império Otomano em esferas de influência e
uma série de pequenos tratados após o final da Primeira Guerra Mundial
definiram as fronteiras finais, criando o Líbano, a Síria, o Iraque, a Jordânia
e o mandato britânico na Palestina (que abriria caminho para a criação de
Israel). As linhas foram traçadas de acordo com os interesses dos europeus, sem
preocupação com o que acontecia com as populações dos territórios.
Mais
recentemente, em especial os três anos de revoltas árabes, liberou antigas
alianças e ódios que cruzam fronteiras - o que pode redefinir Estados e poderes
na região. A animosidade entre muçulmanos xiitas e sunitas, os troncos rivais
do Islã, podem ser os confrontos mais profundos.
A intervenção americana no Iraque tem relação o que
está acontecendo?
A invasão do Iraque e consequente derrubada de Saddam Hussein fez com que se
instalasse um governo controlado pelos xiitas. Com isso, os sunitas perderam
poder. Insatisfeitos, começaram a protestar pacificamente em 2012, mas poucas
concessões foram feitas, porque os xiitas acreditavam que se tratavam não de
pedidos de reforma, mas de uma busca por retomar o poder. Marginalizados, os
cerca de 5 milhões de sunitas iraquianos começaram a ver de forma mais
simpática as ações armadas do EIIL.
Os
EUA podem voltar a ocupar o Iraque?
Os
Estados Unidos afirmaram que estão enviando em caráter de urgência centenas de
soldados ao país e que poderiam realizar ataques aéreos - e até agir em
conjunto com o inimigo Irã - para apoiar o governo iraquiano. Se houver, a ação
conjunta será algo inédito desde a revolução iraniana de 1979 - e demonstra a
urgência e a preocupação com o avanço da insurgência radical.
O
presidente Barack Obama foi o responsável pela saída das tropas americanas do
Iraque em 2011, e resiste em enviá-las de volta. O único contingente militar
americano lá é a segurança na embaixada americana, cujos funcionários estão
sendo retirados.
O chefe de direitos humanos da ONU disse que seguramente
o EIIL cometeu crimes de guerra ao executar centenas de homens nos últimos
cinco dias no país.
Fonte: g1.globo.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário