Quando o astronauta Neil Armstrong deu os primeiros passos na Lua em 1969, os americanos consolidaram sua liderança na corrida espacial. Foi o auge da era da exploração do espaço. Na época, a colonização de outros planetas e o descobrimento de galáxias distantes por naves tripuladas, até então proezas restritas à ficção científica, pareciam o caminho natural dos avanços tecnológicos da humanidade.
Nesta primeira década do século 21, entretanto, a realidade é outra. O alto custo das missões, a crise financeira mundial, o fim da Guerra Fria (e, consequentemente, da corrida espacial) e a questão da segurança nos voos impuseram restrições ao programa espacial dos Estados Unidos. O homem nunca mais retornou à Lua e a missão tripulada ao planeta Marte, por enquanto, só foi vista em filmes.
Na semana passada, mais um capítulo da história da exploração espacial foi concluído. O lançamento do ônibus espacial Atlantis, em 8 de julho, foi o último do programa de ônibus espaciais da NASA, a agência espacial americana. A nave levou quatro astronautas para uma missão de 12 dias na ISS (Estação Espacial Internacional, na sigla em inglês).
Os ônibus espaciais substituíram o projeto Apollo, que levou o homem à Lua, em abril de 1981. As naves conhecidas como "shuttles" foram concebidas pela NASA como as primeiras reutilizáveis, feitas para tornar a viagem na órbita terrestre mais barata e segura.
O primeiro ônibus espacial, o Columbia, foi lançado em 12 de abril de 1981 com apenas dois astronautas a bordo. Em três décadas, foram realizadas 135 missões em cinco naves: Columbia (28 missões), Challenger (10), Discovery (39), Atlantis (33) e Endeavour (25). Ao todo, 385 pessoas de 16 países participaram das missões.
Os ônibus espaciais promoveram uma revolução em diversas áreas da ciência e tecnologia, como telecomunicações, agricultura, previsão de tempo, medicina e guerra.
Uma das missões mais importantes foi a colocação em órbita do Telescópio Espacial Hubble, em abril de 1990, pela Discovery. O Hubble permitiu ao homem enxergar galáxias mais distantes, ampliando sua visão do universo. A mesma nave iniciou a construção da Estação Espacial Internacional (em órbita a 350 quilômetros da terra), em 1998, levando as primeiras peças para o espaço. A estação deve ser concluída no próximo ano.
Tragédias
Mas, segundo os críticos, o programa falhou em seu principal objetivo, que era tornar os voos espaciais economicamente viáveis e seguros. Foi o que motivou o cancelamento.
O programa custou US$ 196 bilhões, ou quase US$ 1,5 bilhão por missão. O valor é pelo menos dez vezes superior às despesas com os lançamentos das espaçonaves russas Soyuz. O investimento corresponde quase ao PIB (Produto Interno Bruto) do Chile, mas é menos da metade dos gastos militares com aGuerra do Afeganistão (US$ 433 bilhões).
A trajetória do programa também foi marcada pelas tragédias. A primeira foi o desastre com a Challenger (o segundo ônibus espacial construído), ocorrido em 28 de janeiro de 1986. A nave explodiu 73 segundos após decolar. O acidente matou todos os sete tripulantes, entre eles a professora Christa McAuliffe, a primeira civil a integrar uma missão espacial. Os voos foram suspensos por mais de dois anos para revisão da segurança.
O segundo acidente, em 1o de fevereiro de 2003, aconteceu com a Columbia, primeira espaçonave do programa a entrar em órbita. O ônibus espacial se desintegrou ao reentrar na atmosfera da Terra sobre o Estado do Texas. Todos os sete tripulantes morreram. A morte de 14 astronautas nas missões pôs em xeque a segurança dos voos. Na Rússia, em 48 anos de programa espacial, somente uma pessoa morreu na explosão de um foguete, em 2002.
Finalmente, em 2008, a NASA anunciou a aposentadoria do ônibus espacial. No ano passado, o presidente Barack Obama congelou parte do orçamento da agência e cancelou programas como o retorno à Lua, antes previsto para 2020.
Sem as espaçonaves, os astronautas americanos ficarão sem meios próprios para ir ao espaço. A NASA terá que desembolsar US$ 50 milhões para pegar "carona" com os russos nas naves Soyuz até a Estação Espacial Internacional.
Os "shuttles" serão substituídos pelo MPCV (Veículo Multifuncional Tripulado, na sigla em inglês). As missões tripuladas devem ser retomadas somente em 2019. Está prevista também uma visita ao planeta Marte, sem data certa.
Até lá, outra saída será a construção de naves pela iniciativa privada. Empresas receberam repasses de verbas da NASA. As espaçonaves serão construídas para levar os astronautas americanos até a Estação Espacial.
As quatro naves restantes da frota original irão para museus nos Estados Unidos. A Atlantis, assim que retornar do espaço, será exibida no museu do Centro Espacial Kennedy, localizado no Estado da Flórida. A Enterprise (protótipo que não chegou a ir ao espaço), a Discovery e a Endeavour terão o mesmo destino em outros museus americanos.
Fonte: http://educacao.uol.com.br/atualidades/fora-de-orbita-o-fim-da-era-dos-onibus-espaciais.jhtm
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